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Uma reflexão para quem tem a mania de ser a Salvadora da Pátria. Ou Salvador.
Nesta Edição
Uma Ilha
Performance
Prática Consciente
Estado Interno
Uma ilha
[é preciso sair dela]
Faz tempo que não escrevo aqui e não é por falta de tema, pelo contrário, é por excesso. Excesso de dias intensos, de mudanças e de entrega. Foi tanta coisa vivida que precisei sair da ilha para enxergá-la.
Se você já ouviu essa frase – “Para observar a ilha, é preciso sair da ilha” talvez tenha sentido o impacto que ela causa quando se torna prática. Eu precisei sair, literalmente. Agora escrevo de Cancún, mas poderia ser de qualquer lugar onde o tempo passa mais devagar e a alma consegue ouvir algo além do barulho do mundo.
Nos 40 dias que passei no Canadá, fui engolida por rotinas alheias, agendas intensas e expectativas que não eram minhas, mas que abracei como se fossem. Eu me perdi no meio do caminho, achando que era apenas uma fase e que logo passaria. Passou. Mas deixou um rastro de cansaço, silêncio interno e palavras entaladas.
Escrever sempre foi meu modo de voltar para mim. Mas, desta vez, até isso ficou distante, porque escrever exige conexão, presença e tempo.
Presença é, ou ao menos deveria ser, a nossa maior qualidade interna.
Eu me deixei atravessar pelas demandas do outro e por histórias que não eram minhas. Aquela bagunça me chamava para o caos e, por mais que eu tivesse consciência disso, faltava uma ação: sair da ilha. Agora, do lado de fora, vejo com nitidez o que, lá dentro, era apenas neblina.
Voltar a escrever é voltar para casa. Lembrar quem eu sou, sem a pressa, sem os barulhos, sem o “tem que”. Relembrar o ritmo que faz sentido para mim: o da respiração, rotina calma, café com intenção e meu caderno aberto no colo.
Desconexão
[performance]
Lembrei de um trecho marcante do livro O Ano em que Morri em Nova York, quando um americano que vivia na Califórnia diz, durante um retiro na floresta amazônica:
“Na Califórnia, tínhamos tudo: tecnologia, segurança, emprego, consumo. Mas eu estava morrendo por dentro. Achava que isso era desenvolvimento. Aqui, no meio da floresta, onde não há wi-fi, mas há conexão verdadeira, descobri que qualidade de vida não tem nada a ver com aquilo.”
Eu não estava na Califórnia, geograficamente falando, mas não era muito diferente, porque, quando a gente se desconecta, pouco importa a geografia. Pode ser numa capital com wi-fi de fibra óptica, num chalé no interior do Brasil ou em um hostel de frente para o mar... A desconexão é um estado interno.
Assim como reconexão.
E é disso que falo aqui. De volta ao lugar onde moro, dentro de mim, onde posso respirar, desacelerar e lembrar o que é essencial: meu corpo, minha escrita, meu tempo, meu silêncio. Onde não preciso de performance, ninguém me aplaude e, eu me acolho.
✍🏽 Saindo da Ilha
[prática consciente]
Hoje, convido você a escrever sobre isso:
Qual é o meu ritmo?
Quais rotinas ou compromissos me afastam de mim?
Escreva com honestidade, sem floreio ou necessidade de conclusão.
E, se puder, saia da ilha. Mesmo que por dez minutos, olhe de fora. Observe o que ficou lá dentro. Precisamos carregar tudo?
Não é o lugar
[estado interno]
Estar em Cancún, desacelerando, é um privilégio e uma escolha. E sei que pode começar com um fim de semana no interior, um banho sem pressa ou um caderno em branco. Não precisa ser longe, mas precisa ser intencional.
Voltar para casa é lembrar que ela sempre esteve aqui. Hoje, com menos pressa, volto devagar. E te convido a fazer o mesmo.
Um pouco mais sobre essa pausa
Vale a pena visitar 😊
Um recado numa frase clichê
“Equilíbrio não é manter tudo em pé, mas saber o que pode cair sem que você desmorone junto”.
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✒️ Até semana que vem!
Andrea, que coisa boa voltar para casa, né? Melhor ainda saber que podemos voltar sempre que quisermos.
Adorei te ler.
há quase meio ano, resolvi arrumar essa casa interna: abri mão do que eu fazia por obrigação (muito mais com os outros do que comigo), incluí atividades que me dão prazer, passei a respeitar mais o meu tempo e os meus desejos. sinto que ainda não cheguei exatamente onde quero, mas a casa já parece bem mais arrumada.